A infância geralmente é uma época lembrada com saudade pelas pessoas. Não ter responsabilidades, brincar na rua com os amigos, se divertir livremente. Porém, o que se percebe atualmente é que as brincadeiras lúdicas estão ficando, muitas vezes, esquecidas pelas crianças e pelos seus pais. Segundo dados da pesquisa Gerações Interativas Brasil – Crianças e Adolescentes Diante das Telas, 47% das crianças (entre seis e nove 9 anos) e 75% dos jovens (entre 10 e 18 anos) costumam utilizar a internet. Então, em um mundo tão globalizado, onde fica o papel do brincar na infância?
Marc Prensky, pesquisador na área da educação, caracteriza as crianças nascidas no século XXI como “nativos digitais”. Isso significa que eles nasceram em um contexto altamente desenvolvido do ponto de vista da tecnologia e isto é apresentado para eles desde muito cedo. “Há muita utilização de TVs, smartphones e tablets como ‘babás’ (e até mesmo como ‘ajudantes’ das próprias babás). Há recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria para que crianças menores de dois anos não sejam expostas a smartphones e tablets por uma série de razões. É necessário tomar muito cuidado”, reflete a psicóloga e professora da Unisul, Rosa Cristina de Souza.
Indo na contramão do perfil atual, muitas famílias ainda aproveitam e incentivam a brincadeira lúdica e livre de tecnologias. Heloísa Juncklaus é mãe da Isabela e do Arthur, de 11 e seis anos, respectivamente, e no álbum de memórias da família as brincadeiras ao ar livre têm espaço especial. “Gosto quando eles dizem ‘vamos aproveitar o dia lindo, vamos aproveitar o sol ou o arzinho fresco’. Fazemos coisas lúdicas porque acredito na importância delas para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, mas também socioemocionais e, ainda, estabelecemos laços de empatia e afetividade que só o estar junto nos proporciona” comenta Heloísa.
O fator positivo das brincadeiras
O brincar na infância tem papel fundamental na formação dos pequenos. Segundo Rosa Cristina, a brincadeira vai muito além de apenas um passatempo. “A brincadeira permite que a criança se expresse, aprenda e se desenvolva: O brincar é de fundamental importância para o desenvolvimento social, cognitivo e emocional das crianças. Ou seja, a brincadeira não é só um passatempo, ela ajuda na socialização, promove interação entre as crianças, permite que se expressem, explorem e descubram o mundo à sua volta”.
Então, como fazer que o brincar seja rotina na vida das crianças e também na das famílias? Para Heloísa, a tarefa não é fácil, já que a tecnologia acaba roubando tempo e atenção, não apenas das crianças, mas também dos pais. “Regras são necessárias. A adultização precoce de crianças só traz prejuízos, pois suprime uma série de habilidades que são desenvolvidas justamente na infância, fazendo coisas de criança. Quando os pequenos são estimulados eles acabam preferindo a brincadeira. Talvez, para quem não tenha o hábito, vale um pouquinho de insistência e convencimento. Aqui, basta o convite (ou ser convidada!). Vale a pena preservar a infância de nossos filhos e, como bônus, reviver a nossa”, finaliza.